sábado, 7 de dezembro de 2013

Honrarias e a eficácia dos engenheiros

Vossas Excelências , suas Excelências
Recentemente participei de um evento em que o tratamento a qualquer chefe político era motivo de máxima exaltação. Um seminário técnico que deveria provocar energicamente as lideranças políticas, nesse caso surpreendentemente bem preparadas, perdeu oportunidades de debates e apresentações técnicas melhores, pois o tempo foi gasto e preparado para exaltação dos chefes, por sinal, potenciais contratantes de serviços.
Essa subordinação é, talvez, a causa de nossas mazelas.
É de domínio público a forma com a qual a Presidenta comanda o Brasil. Talvez cercada por bajuladores competentes, ela se considera na obrigação de ser dona da verdade. Como diz e faz besteira!
Nossas universidades deveriam criar um código de ética para o relacionamento de seus alunos e as elites dominantes. Antigamente isso era conquistado, agora, diante da multiplicação de postos de trabalho e de escolas a qualidade dos estudantes baixou de nível e na média chegam às universidades ainda com “cheiro de leite e de lá saem fedendo a cerveja”, como ouvimos de um especialista em congresso em Curitiba.
Precisamos de novas lideranças, principalmente de pessoas da área de Ciências Exatas, de onde saem os futuros construtores do Brasil. As entidades de classe não servem de referência, menos ainda os sindicatos. Nesses ambientes os grandes chefes são, em geral, indivíduos que há muito tempo abandonaram atividades essencialmente profissionais para se dedicarem a questões corporativas de rotina.
O resultado da dinâmica ou inércia em geral é a degradação da Engenharia, fenômeno mundial, não é privilégio brasileiro. Um bom indicador dessa afirmação é a qualidade de grandes empresas, foco de convergência de atores que lá encontram o império dos acionistas, anônimos, indiferentes às questões sociais, humanas. O espaço é de quem fala bem, domina etiquetas, relaciona-se bem, disfarça fantasticamente...
Será que ser Engenheiro significa alienação?
O que complica é sentir que a “babação” em torno de caciques é um fenômeno quase geral e deletério. Com certeza dá dividendo agradar quem pode fazer algo em benefício do militante. Nada mais justo quando a pessoa realmente merece.
Lamentamos a morte de Nelson Mandela, seria fantástico poder louvá-lo de todas as maneiras possíveis. Sentimo-nos pequenos até para escrever. Esse cidadão do Mundo merece.
E os demais?
É triste ver e ouvir agrados e aplausos para quem não merece.
O Brasil vem de uma história que poderia ter sido diferente. Os bons livros dizem, mostram, demonstram isso. O resultado desse périplo tenebroso é o atraso endêmico do nosso povo. Há muito a ser feito, portanto. Precisamos recuperar séculos perdidos. O que fazer?
Não é simpático ser sincero. Michel Foucault dá destaque a isso nos últimos livros que relatam suas aulas (Livros e Filmes Especiais). A coragem da verdade, ser corajoso, sincero, determinado a no mínimo expor o que acreditamos quando necessária é a única forma pacífica e democrática de aprimoramento da sociedade com segurança e democraticamente.
É extremamente triste observar a covardia e o oportunismo, frequentemente revelados pela orientação: “apague meu nome e endereço antes de repassar”.  O autor da mensagem se credencia a méritos futuros e se livra de riscos presentes. As desculpas para agir na penumbra são muitas, mas talvez Maslow (Hierarquia de necessidades de Maslow, 2012) explique melhor de forma neutra.
Valorizar a indisciplina responsável é algo necessário, mais ainda quando importante e essencial às correções que nossa sociedade precisa, por quê?
Para sua própria sobrevivência a sociedade humana carece de ajustes importantíssimos. É até tedioso relacionar quanto existe mal feito.
Culpar os políticos é a regra geral. Aqueles que se atrevem a disputar cargos eletivos precisam agradar seus eleitores. Dificilmente veremos pessoas escolhidas pelo discurso da seriedade e da honestidade. Vale tudo, de futebol a rezas, mas a apresentação séria e responsável de questões gerais não dá votos. Menos ainda entre militantes oportunistas, matilhas em volta de machos e fêmeas alfa distribuindo restos de caçadas.
Algo gratificante foi descobrir no livro 1898 (Gomes, 2013) que no Brasil já tivemos uma elite dedicada aos problemas brasileiros em torno da Praia Vermelha. Seria ótimo se as universidades brasileiras recriassem ambientes de amor à Pátria e ao nosso povo. O núcleo que pretendia ser racionalista e mexeu com nossa História faz falta. Atualizando comportamentos os ambientes universitários poderiam criar laboratórios de cidadania, existem?
Talvez assim todos nós venhamos a repensar formas de tratamento e “cidadão” e “cidadã”, “camarada”, “patriota” e outros padrões resgatados e usados em vez do hipócrita “Vossa Excelência”.
Cascaes
7.12.2013

Hierarquia de necessidades de Maslow. (5 de 6 de 2012). Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de_Maslow
Cascaes, J. C. (s.d.). Fonte: Livros e Filmes Especiais: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/
Gomes, L. (2013). 1889. Fonte: Livros e Filmes Especiais: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/11/1889.html