domingo, 29 de março de 2015

Engenharia – o desafio da qualidade e a definição de custos e preços


O povo brasileiro ainda não digeriu tudo o que a Operação Lava Jato mostrou, um processo a partir de diligências e inquéritos que entrarão para a história nacional, pois seus executores estão exercendo com maestria e extrema competência suas atribuições profissionais.
De Brasília o Governo Federal e o Congresso Nacional procuram retomar a iniciativa, mas quem acredita?
Nesse maremoto após as marolas de alguns anos passados precisamos também repensar e refazer a legislação relativa ao exercício da Engenharia, procurando apontar equívocos e firulas de uma legislação que não mostrou bons resultados. Ao contrário, manipulada até acintosamente deve ter semeado projetos ruins e caros em todos os níveis de gerenciamento político nacional. Agregando maldades perdemos a cadência de ações que exigiriam compreensão de prioridades e atualidade, assim agora sentimos todo o peso de um período de estiagem, o agigantamento de cidades mal localizadas, sistema de transportes absurdamente dependente de uma indústria monomodal, saneamento básico e todos os serviços essenciais precários, apesar da abundância de recursos possíveis durante alguns anos.
Somos um país excessivamente concentrador de poderes em uma União incapaz de aplicar suas decisões de forma honesta e formada por estados dependentes de simpatias políticas, algo vergonhoso e ineficaz [1].
Nesse ambiente que canaliza nossas atenções para a área criminal e política devemos também lembrar a importância da Engenharia, ciência dita Exata e com instrumentos de análise e planejamento alheios a gostos e ambições rasteiras.
O que estaria errado (além do que todos sabem)?
O quadro institucional existente penaliza as empresas de porte médio ou pequeno em favor de grandes companhias, essas devidamente protegidas por bancas formidáveis de Advocacia.
Como viabilizar a boa Engenharia sem ter que suportar manipulações que impõem aos brasileiros preços extorsivos e inflados nos circuitos burocráticos de licitação, aprovação, aquisição, execução e operação de qualquer instalação, principalmente aquelas que afetam os serviços essenciais?
Além dos projetos de interesse estratégico, o que fazer para garantir a segurança de tudo o que precisamos para viver?
Temos normas técnicas, quem e de que jeito elas são aferidas em tudo o que se vende no Brasil?
Existem estruturas e profissionais necessários e suficientes para fiscalizar com severidade o que existe?
Que educação é transmitida aos nossos técnicos e engenheiros?
A aplicação de leis, decretos, regulamentos, estatutos, portarias etc. é discricionária[1]? Como evitar a má qualidade, os sobrepreços, a desonestidade?
Antes de mais nada é bom lembrar que a fobia legiferante { [2] , [3], [4]} é nociva ao país à medida que confunde e onera qualquer processo. A simplicidade é virtude e o fundamental é a identificação e punição de atos dolosos. O formalismo é instrumento de perversão na área técnica, extremamente dependente de pessoas e empresas com qualidades nem sempre comuns.
O exercício de qualquer profissão com brilhantismo é função de algo muito acima de diplomas e certificados e só especialistas e bons gerentes poderão dizer quem realmente é capaz. O ser humano é um conjunto fantástico de recursos físicos, sensoriais, intelectuais, culturais e morais, mas alguns têm qualidades excepcionais. Isso pode ser sentido em sua plenitude no exercício do esporte onde alguns se destacam. Quem desejaria formar seleções perdedoras? Os torcedores negam bons salários para seus craques? É isso que acontece quando escolhemos empresas a partir do menor custo, simplesmente criando processos licitatórios sem condições de valorização de bons profissionais, pior ainda quando tudo é feito como se esses cuidados acontecessem e somos enganados na formação das equipes e escolha de materiais, equipamentos, sistemas etc.
O desafio da boa Engenharia exige estratégias de contratação, fiscalização e competição saudáveis.
O povo brasileiro envelhece e a quantidade de pessoas com deficiência(s) em consequência de acidentes, doenças e envelhecimento cresce rapidamente. O que fazer para que a segurança prevaleça ao discurso fácil da redução de custos, simplesmente?
Cascaes
29.3.2015
[1]
J. C. Cascaes. [Online]. Available: http://o-irredento.blogspot.com.br/.
[2]
P. V. F. ROSA, “O Brasil precisa de mais leis?,” 21 01 2014. [Online]. Available: http://congressoemfoco.uol.com.br/legislacao/o-brasil-precisa-de-mais-leis/.
[3]
C. O. ALESSANDRA DUARTE, “Brasil faz 18 leis por dia, e a maioria vai para o lixo,” O Globo, 3 11 2011. [Online]. Available: http://oglobo.globo.com/politica/brasil-faz-18-leis-por-dia-a-maioria-vai-para-lixo-2873389.
[4]
J. Neitsch, “O país que não sabe fazer leis,” Gazeta do Povo, 31 5 2012. [Online]. Available: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/justica-direito/o-pais-que-nao-sabe-fazer-leis-1lrnvjcltldrtw8ajowe85jri.









[1] Discricionário é aquele ato pelo qual a Administração Pública de modo explícito ou implícito, pratica atos administrativos com liberdade de escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. - http://www.dicionarioinformal.com.br/discricion%C3%A1rio/

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