Valorização Profissional – uma necessidade urgente
Temos cultura formalista, burocrática, gostamos de carimbos,
títulos e diplomas; realmente podemos, temos capacidade para fazer com
qualidade e confiabilidade o que dizem nossos diplomas, certificados, descrição
de cargos, medalhas etc.?
Recentemente vimos um filme fantástico de posse da Aliança
Francesa (minha esposa tem o direito de emprestar filmes e livros da AF) que
tratava da construção das grandes catedrais francesas. Que aula de Engenharia e
Arquitetura!
A História da Humanidade tem muitos exemplos de obras
colossais, com destaque para a China que fez “milagres” há alguns milênios e o
Egito de tirava do Rio Nilo o máximo que podia. Na Grécia Atenas foi um exemplo
maravilhoso, não apenas para a Engenharia, Arquitetura, artes plásticas, mas
também para a Filosofia. Cartago disputou com Roma o domínio do Mar
Mediterrâneo e entre outras razões estava a tecnologia de construção de navios
de guerra. Quando os romanos aprenderam souberam usar melhor o que os
cartagineses desenvolveram, isso sem falar, talvez, de padrões melhores de
tratamento de seus soldados e até escravos...; todas as estradas levavam à
Roma, essa era uma expressão que só perdeu sentido quando essa cidade
extraordinária sucumbiu à força de suas tropas (principalmente) e a conflitos e
crenças revolucionárias, mas ineficazes.
Na antiguidade não existiam universidades, faculdades, escolas
técnicas exceto algumas academias e liceus dedicados à Filosofia e ensino de
artes místicas em lugares muito especiais.
No meio de povos mais avançados tínhamos as corporações de
ofício.
O trabalho dessas muitas corporações e de mestres
fenomenais, cujos nomes dificilmente aparecem com destaque aos olhos de
turistas apressados, é de compreensão complexa e surge à luz de nossos dias aos
poucos em serviços de especialistas, principalmente daqueles que procuram
preservar testemunhos e obras de arte de nossos ancestrais.
E agora?
Nossas cidades são a demonstração material do conhecimento
humano. Elas e moradores de prédios (arquivos de gente) podem dizer o que têm e
a qualidade do que recebem, inclusive em lojas famosas quando trocam
eletrodomésticos antigos por coisas modernas e feitas para clientes diferentes
do que somos.
O que podemos dizer quando sentimos que estamos muito longe
dos padrões que sentimos nos países mais desenvolvidos?
Continuamos importando maravilhas e instalando-as em
ambientes onde até creches são insuficientes ou mitos distantes?
No Brasil temos um desafio colossal, viabilizar um bom padrão
de educação e ensino em todos os níveis e atividades. Se existe algo a ser
corrigido, aprimorado ou modificado radicalmente é a forma de produzir
profissionais e cidadãos.
Precisamos urgentemente de bons projetos estratégicos
(cidades, estados e União) de desenvolvimento para não ficarmos embasbacados
vendo trens de altíssima velocidade disparando entre cidades, sistemas de
comunicação que dependem da boa vontade de estrangeiros distantes para termos
algo que preste, dependência de foguetes e satélites que não conseguimos
colocar em órbita, médicos realmente sensíveis e competentes, hospitais dos
quais não tenhamos que sair carregados com urgência, calçadas, ruas, parques,
prédios, estádios, viadutos e trincheiras, etc. que não sejam mal feitos ou
perigosos apesar de desproporcionalmente caros. Legislação? Nem laboratórios
bem equipados temos para certificar o que é projetado e feito no Brasil. O que
vale é reduzir tarifas e aumentar impostos e taxas, inclusive de cartórios em
tempos de informática e automação.
Estudamos em São Paulo (cursinho), quando pudemos conviver
com alunos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica em 1963, que gênios! Ali aprendemos
a importância de vestibulares e critérios de admissão severos. O resultado é
visível. A EMBRAER é um bom exemplo desta base assim como boas escolas de
Agronomia (que nos deram a EMBRAPA), Eletromecânica e Medicina viabilizaram
profissionais excelentes que marcaram época e empresas brasileiras que tiraram
o Brasil a partir da década de setenta de um atraso grotesco. E atualmente?
Caímos na armadilha de integrar e formar universidades e dar
a essas coleções de escolas um sistema corporativo de formação de suas
gerências, funcionou?
Impedimos a importação de professores e doutores,
cristalizamos nossa ignorância.
Lutamos por planos de carreira onde o principal mérito é
colecionar diplomas e certificados dados entre si e o tempo de “trabalho”.
Em nossa pátria dos carimbos hoje temos uma coleção de
organizações para “defesa da profissão”. Isso é bom? A quem defendem? donos de
diplomas?
Sabemos que a melhor demonstração de qualquer teoria é o
resultado obtido.
Graças à Operação Lava Jato ficamos sabendo com detalhes do
“modus operandi” de empreiteiras gigantescas, Petrobras, equipes gerenciais
etc. no Brasil. Dolosamente estávamos(?) sob muitos critérios maldosos(?) de
execução de obras. No mínimo poderíamos perguntar, o que teria sido da história
da Humanidade se esse tipo de gente comandasse a construção dos impérios e
obras da Antiguidade? Noé teria feito sua arca?
Cascaes
22.4.015
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